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Vini Jr, o novo Zumbi dos Palmares, por Marco Piva

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Vini Jr, o novo Zumbi dos Palmares

por Marco Piva

Foram três anos de insultos, agressões verbais e muita, muita paciência. Até que não deu mais. Vini Jr., nosso craque do momento, colocou o dedo na ferida ao dizer “Basta!”.

Basta ao racismo institucionalizado na “La Liga” e naquela parte da sociedade espanhola raivosa e ignorante. É disso que se trata, afinal. O futebol, neste caso, é apenas a expressão de um estágio de violência presente em muitos países.

O avanço da extrema-direita espanhola revigorou o racismo e o preconceito. O que isto difere do que acontece no Brasil? Por isso, o futebol é uma ponta de lança, uma espécie de circo romano. O estádio agrega multidões que não obedecem regras. Vivem momentos de catarse coletiva onde os instintos mais primitivos afloram para punir inimigos e não mais adversários.

É louvável que Vini Jr., um jovem negro da periferia carioca, tenha suportado tanta violência em quase três anos. Fico imaginando o que deve ter passado na cabeça dele até o dia do jogo contra o Valencia. Um contrato milionário é mais importante do que a dignidade? Um ser humano humilhado, rebaixado em sua condição de raça, aguentaria quanto tempo?

A lição que Vini Jr. traz para todos nós é que não vale a pena ficar escravizado. Como um Zumbi dos Palmares contemporâneo, ele resgatou um grito de guerra para milhões de negros que não tiveram e quem sabe dificilmente terão a mesma oportunidade e o mesmo espaço.

Vini Jr. falou especialmente para os jogadores negros como ele que acreditam que as coisas que acontecem no campo ali devem morrer. Quantos atletas já não foram e são espezinhados, violentados e agredidos por sua raça e condição social? Parece que a atitude do maior craque da atualidade elevou a autoestima de uma comunidade inteira e, ao mesmo tempo, sinalizou aos seus colegas de profissão que calar não é a melhor solução. Poucas vezes vimos jogadores brasileiros tomarem posição política, criticar o que de errado acontece na sociedade e no país. O mesmo vale para comentaristas esportivos que fogem da crítica política como o diabo foge da cruz, mesmo sabendo das mazelas do nosso futebol.

Desta vez, não. Foi como se um facho de luz abrisse um horizonte diferente para resgatar a esperança do povo negro. A dimensão mundial do ato de racismo ocorrido na Espanha mostra que o destino é muito maior do que a gente imagina. Um jogador de origem humilde coloca o dedo na ferida do racismo e já merece ingressar no panteão dos heróis como foi Zumbi dos Palmares.

Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino, na Rádio USP FM 93,7 e coordenador de comunicação social da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).

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