Lula encontrou um Executivo visceralmente enfraquecido. 15 anos de lambança Institucional deixaram o legado de um Congresso dominado pelo Centrão, uma discussão econômica incrivelmente emburrecedora, dominada pelo mercado, um Ministério Público ruim na área federal e descontrolado nos MP’s estaduais e um governo que cede em todas as frentes, nos cargos federais, na política econômica, nas concessões às Forças Armadas, em uma estratégia que não garantirá, sequer, que chegue ao final do mandato. E, do lado de fora do portão, a Hidra de Lerna da ultradireita e do militarismo aguardando para o próximo bote.
Agora que se livrou das dores nas costas, é hora de Lula começar a pensar em um plano estratégico. E por tal não se entenda simplesmente turbinar algumas políticas compensatórias, conquistar algumas concessões mínimas – o Copom aumentou de 0,25 para 0,5 o ritmo de queda dos juros, alvíssaras! -, e se perder na Torre de Babel das discussões inúteis, taxa de juros neutra, PIB potencial, déficit de 0,8% ou 0,7%, e outras masturbações estéreis.
É hora de redescobrir o Brasil, não o da Faria Lima, mas o Brasil real. Cada vez mais aumenta a certeza de que a recuperação do país só será alcançada com estímulos à atividade produtiva, à indústria, da grande siderúrgica ao pequeno fabricante de roupas, das grandes cooperativas ao MST, mobilizando o maior ativo nacional, as inúmeras redes que cobrem o país de ponta a ponta.
Falo dos bancos públicos – embora já tenha queimado a Caixa Econômica Federal com uma indicação bizarra -, das federações empresariais, das centrais sindicais, da rede de associações comerciais, do cooperativismo, do MST, da rede de financiamento à inovação, da rede de universidades públicas plantadas nos primeiros governos.
O país precisa saber que existe saída, um presidente que luta por ele, que impeça que importações deletérias destruam a produção interna, que enfrente os fantasmas criados pelo mercado e reduza as taxas de juros, estimulando os novos investimentos. Tem que devolver o orgulho de ser brasileiro, o orgulho de consumir produtos brasileiros, o orgulho da pátria que acolhe populações de todo o mundo.
O maior potencial de um país não está nessa tolice inominável de ficar discutindo os dois pontos depois da vírgula do déficit público, mas na capacidade de amarrar de forma racional e criativa todos esses fatores potenciais de desenvolvimento, casar Sebrae com CNPQ, dar asas para a Embrapii, casar Embrapa cada vez mais com a agricultura familiar, a Petrobras com as universidades, dar uma função nobre para as associações comerciais, para as federações de indústria, para as centrais sindicais.
Dia desses, entrevistado por uma jornalista brasileira, o presidente da Intel dizia não entender a razão do Brasil, tendo tão bons engenheiros de sistemas, não ter conseguido produzir uma indústria forte no setor.
Tudo isso depende de tecnologia social, uma ciência que está a quilômetros da compreensão dos tarados do déficit público. É a capacidade de juntar setores diversos, complementares, em torno de objetivos comuns de criação de empresas e de empregos, de construção do desenvolvimento.
No já longínquo 2008, a crise permitiu ao país recorrer à mais forte das políticas públicas, os sistemas de participação, de aprofundamento da democracia, as Conferências Nacionais – embora nem todas as conclusões se tornassem políticas públicas -, o Conselhão, a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), uma grande ideia que não saiu do papel.
Meses atrás, o Instituto Roosevelt, dos Estados Unidos, constatou que a única salvação da democracia era o aprofundamento da democracia. Pesquisou os vários modelos participativos e constatou que o mais aprimorado era o brasileiro, com as Conferências Nacionais.
É hora de Lula partir para a guerra, não como El Cid, o Campeador, mas como o comandante de fato de maior batalha brasileira, a luta pela preservação não apenas da democracia, mas da Nação Brasil.
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