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PF omite fala de João Malucelli em perícia que afastou Eduardo Appio da Lava Jato

Há um detalhe na gravação que resultou no afastamento preventivo do juiz federal Eduardo Appio, da 13ª Vara de Curitiba, palco principal da Lava Jato.

Recapitulando: em 13 de abril passado, enquanto almoçava seu salmão com alcaparras, João Malucelli, filho do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4, recebeu, de um terminal desconhecido, telefonema de um homem se passando por servidor do Tribunal, cujo nome (fictício) era Fernando Pinheiro Gonçalves.

João, genro de Sergio Moro, suspeitou, pela voz, que se tratava de Eduardo Appio. E mandou a companheira de almoço gravar o trote.

aqui], João Malucelli colocou a ligação no mudo e disse à mulher: “Olha, é o Appio!” A fala de João Malucelli é irrefutavelmente límpida. Tanto que a jornalista Daniela Lima, da CNN, comentou o detalhe ao vivo na quarta (24), quando avaliou o trote como digno de uma comédia pastelão, com ironias de lado a lado.

Por alguma razão desconhecida, a perícia da Polícia Federal, responsável por analisar o vídeo a mando da Corregedoria do TRF-4, ocultou deliberadamente a fala de João Malucelli.

Comparando o vídeo com a transcrição da PF, verifica-se que ali em vermelho, destacado no documento abaixo, onde deveria constar a fala de Malucelli – “Olha, é o Appio” – a PF preferiu escrever “incompreensível”.

Relatório da PF omite fala de João Malucelli que evidencia que Appio era seu principal suspeito. A perícia foi usada no relatório do corregedor do TRF-4 que defendeu o afastamento cautelar de Appio

Talvez justamente por suspeitar de Appio desde o início, João Malucelli tenha mandado a companheira de almoço fazer a gravação, e feito a provocação final (“tem certeza que esse é o nome do senhor?”), ao que o interlocutor respondeu com outra provocação (“certeza absoluta. E o senhor, tem certeza que não tem aprontado nada?”). O suficiente para os Moro e os Malucelli alegarem tentativa de constrangimento e ameaça a um desembargador.

Na mídia, Moro vendeu a gravação como uma prova fortuita de uma “grave ameaça” à integridade do desembargador Malucelli, seu compadre e aliado na Lava Jato.

Além de – ironicamente – ter argumentando que Appio supostamente cometeu grave violação ao código da magistratura – isso mesmo, Moro dando aula de ética – ao usar do cargo para obter dados sigilosos e, depois, ligar indevidamente para o filho de um desembargador.

O TRF-4 ainda endossou a narrativa a favor de Malucelli quando aprovou o relatório da Corregedoria, pesando a mão sobre a possível motivação para Appio supostamente ter ligado para João Malucelli.

O diálogo travado e outras evidências mostram uma tentativa de confirmar se eram, de fato, pai e filho, e se tinham relações com os Moro, porque isso comprovaria a suspeição de Marcelo Malucelli para continuar na Lava Jato. Mas o corregedor atrelou o trote ao andamento de correições parciais em que o desembargador Malucelli afronta Appio e o STF para tentar calar Tacla Duran. Transformaram, assim, o trote numa possível retaliação por causa das correições.

Quando a ligação acabou, a sequência de fatos paralelos se tornou conhecida:

  • 13 de abril: João Malucelli procurou o sogro Sergio Moro para mostrar a gravação e, depois, a denunciaram ao TRF-4. A participação de Moro na denúncia foi ocultada dos autos;
  • 13 de abril: Coincidentemente, naquele dia, a imprensa começou a revelar a intimidade entre as famílias Moro e Malucelli, o que levaria à suspeição do desembargador. O telefonema a João Malucelli foi uma aparente tentativa de confirmar a filiação;
  • 14 de abril: Senador Renan Calheiros anunciou que pediria ao CNJ o afastamento de Marcelo Malucelli do caso Tacla Duran, justamente por causa do vínculo com Moro. O GGN apurou que foram 3 representações contra Marcelo (uma de Renan, outra do senador Rogério Correia e uma terceira do próprio Tacla Duran. As 3 foram juntadas a um processo instaurado pelo próprio corregedor do CNJ, ministro Luís Felipe Salomão);
  • 14 de abril: Marcelo Malucelli precisou se explicar ao STF por ter atropelado decisão do ministro Lewandowski que paralisou a ação penal de Tacla Duran;
  • 14 de abril: Corregedoria do TRF-4 despachou “com urgência” pedindo ajuda da PF para periciar a o telefonema recebido por João Malucelli;
  • 17 de abril: Moro é denunciado ao STF por caluniar Gilmar Mendes, acusando o ministro de vender sentenças;
  • 17 de abril: Corregedoria do TRF-4 pressionou a PF para confirmar se a voz na gravação era de Eduardo Appio.

O juiz Appio está afastado da 13ª Vara Federal e tem prazo inferior a 15 dias para apresentar defesa. O órgão administrativo do TRF-4 vai analisar se instaura processo para apurar infrações disciplinares. O CNJ deve entrar no caso e pode rever a decisão administrativa dos desembargadores.

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