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Participação de jovens no Enem tem queda alarmante, aponta estudo da UFRJ

O número de jovens da região Sudeste, concluintes do ensino médio, que participam do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) caiu para 26%, em 2021, após atingir um pico de 63%, em 2016. Os dados são de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O documento ainda indica um aumento das disparidades sociais nos últimos anos, com maior redução da participação no exame entre os jovens de famílias de baixo nível socioeconômico. As inscrições para a edição deste ano do Enem estão abertas. 

O relatório “Oportunidades educacionais de estudantes concluintes do Ensino Médio: um estudo do Enem entre 2013 e 2021”, mostrou que no período da pandemia de Covid-19, os indicadores despencaram. O movimento de intensa queda também foi marcado por desigualdade em termos regionais. Na comparação entre 2016 e 2021, o Sudeste registrou o menor indicador entre todas as regiões. Em seguida, aparecem o Centro-Oeste (51%, antes 77%), Nordeste (45%, antes 72%), Sul (34%, antes 71%) e Norte (34%, antes 66%). Já os estados que tiveram as maiores taxas de inscrição em 2021 foram Ceará (92%), Goiás (71%) e Espírito Santo (52%).

O levantamento, produzido pelos pesquisadores Tiago Bartholo, Daniel Castro, Melina Klitzke e Flavio Carvalhaes vinculados ao Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da (LaPOpE) e ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED) da UFRJ, também revelou que a diferença na probabilidade de participação no Enem entre os jovens de níveis socioeconômicos muito baixo e muito alto quase dobrou, ao sair de 11 pontos percentuais, em 2013, para 23, em 2021.

A análise também indicou que estudantes de baixo nível socioeconômico matriculados na rede privada tiveram maior probabilidade de realizar o Enem que alunos do mesmo grupo que estudavam na rede pública . Segundo Tiago Bartholo, pesquisador do LaPOpE, “esse cenário reforça que não se trata apenas de um efeito geral da pandemia, igual para todos, mas sim de ampliação das desigualdades de oportunidades educacionais no país, que requer ações estruturais por parte dos governos, desde o período de inscrição no exame”.

Estudantes com deficiência física 

O estudo também apresentou novos dados de desigualdades entre estudantes com e sem deficiências físicas. Embora os dados disponíveis não permitam análise específica para o período da pandemia, o que é possível identificar é uma queda drástica da taxa de inscrição dos alunos com deficiências entre 2014 e 2019 – de 56% para 28%. No mesmo período, a taxa de inscrição de alunos sem deficiências teve queda menor, de 4 pontos percentuais. 

O comportamento da taxa de participação é similar em relação às desagregações de rede de ensino, região e deficiência. “Os resultados, embora limitados até 2019, revelam que estudantes com deficiência foram mais prejudicados na participação no Enem do que aqueles sem deficiência. Isso aponta para a importância de políticas focalizadas em estudantes com deficiência e a urgência de restaurar o acesso dos pesquisadores a esses identificadores.", afirma Daniel Castro, do LaPOpE/UFRJ.

Possíveis soluções

Diante desse contexto, os especialistas apresentam recomendações para o desenvolvimento de políticas públicas que visam melhorar as oportunidades de participação dos jovens nas próximas edições da prova. As sugestões destacam a importância de disseminar a conexão entre a prova e as oportunidades de acesso ao Ensino Superior, de incentivar a inscrição no exame e de monitorar a participação efetiva.

“Nesse sentido, há práticas exitosas que podem ser replicadas em diferentes territórios. Uma delas é a campanha ‘Enem, chego junto, chego bem’, organizada pela rede estadual do Ceará, que contempla desde mutirões de inscrição e campanhas na TV aberta a disparo de mensagens via SMS aos alunos. Já a rede alagoana, resposta ao cenário ilustrado pela pesquisa, criou em 2022 o Programa Professor Mentor, um processo nas escolas que contempla o acompanhamento da inscrição no Enem pelos jovens concluintes do Ensino Médio”, destaca Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco. 

Os pesquisadores ainda destacam que, após o período de inscrições, que neste ano ocorre de 5 a 16 de junho, é necessário que as redes e as escolas desenvolvam ações focadas para aumentar a presença dos estudantes mais vulneráveis nos dias de prova. Algumas estratégias que podem ser implementadas já em 2023, apontadas pelos especialistas, são: a isenção no transporte público e a distribuição de kits de alimentação nos dias do exame; incentivos financeiros à participação; estruturação de estratégias de mobilização nas redes sociais e mobilização de diretores e professores no engajamento de seus estudantes nos dois dias de prova.