Brazil
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Brasil: a tragédia do dia é a mãe de todas as demais; entenda

Uma pesquisa encomendada pelo SESI (Serviço Social da Indústria) e pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), divulgada nesta quinta-feira (25/5), desnuda a face mais aparente de uma das nossas maiores, ou melhor, a maior de todas as nossas inúmeras tragédias: a precariedade, para não falar em total ausência, de educação formal (escolaridade). O que vale dizer, a ruína da nação.

A desigualdade social, talvez, seja ainda pior – e é! -, mas fruto e filha da falta de educação formal do brasileiro. Como diz o título desta coluna, “a mãe de todas as nossas tragédias”. Sem educação formal não há compreensão, não há capacidade analítica, não há participação, não há interação (e integração), não há produtividade, não há nada. Apenas um enorme, destruidor e desalentador vácuo civilizatório.

Atualmente, apenas 15% dos jovens acima de 16 anos estudam no Brasil. Sim, isso mesmo, 15%. Eu também achei baixo o número, mas é o que temos para hoje. É uma catástrofe humanitária o que está em curso no País. Estamos falando de dezenas de milhões de garotos condenados a uma vida medíocre, e uma sociedade inteira presa ao mais absoluto atraso. E a tendência, sinto informar, é piorar.

Afinal, como mudar uma sociedade pobre, violenta, preconceituosa, despolitizada, enfim, miseravelmente atrasada, sem educação formal? Como ensinar um caminhoneiro, por exemplo, que, ao carregar acima do limite de peso seu caminhão, as leis da física irão puni-lo com o tombamento à primeira curva? Ou um eleitor a não votar em um político corrupto sem que leia, entenda e compreenda o noticiário?

A maior causa da evasão escolar é, claro, a necessidade de trabalhar e ajudar no sustento da família. Conversando com uma jovem atendente em uma lanchonete (uma gentil moça de 19 anos), a realidade corrobora a pesquisa. Ela não estuda porque trabalha dez horas por dia e enfrenta três horas diárias no deslocamento: “eu adoraria cursar nutrição, mas como?”. Eis aí! Está condenada a jamais sair do balcão.

Como formar mão de obra qualificada, com maiores salários, sem estudo? Como aumentar a renda média e ,consequentemente, o consumo – com queda no desemprego e maior arrecadação de impostos – sem qualificação? Como melhorar a política e a administração pública, através do voto, sem capacidade analítica? Como melhorar a produtividade e baixar os preços em geral sem ensino adequado?

O fosso social que separa o Brasil do mundo desenvolvido é enorme, mas tão profundo quanto é o buraco que separa os jovens que podem dos que não podem estudar. Aliás, dentro do universo dos que podem, há ainda a distância abissal entre quem estuda em escola pública e quem estuda em escola particular (distância que se tornou ainda maior durante e após a pandemia de covid-19).

Tomando café com um amigo – um cara que veio do interior, filho de gente muito simples -, ouvi que “poucas coisas dão tanto orgulho para meu pai e minha mãe quanto o fato de eu ser formado”. Além de retirar esse orgulho de dezenas de milhões de pais e mães, a catástrofe em curso também implica em culpá-los por ter de contar com os filhos para o sustento do lar. É um ciclo perverso que se retroalimenta.

Por não terem tido estudo, os pais não têm boa renda. Por não terem boa renda, precisam que os filhos trabalhem (e não estudem). Muito mais que triste, é desolador viver assim. Estamos falando de uma sentença de pobreza, adquirida no momento em que se nasce, com raríssimas e honrosas exceções. Sinceramente, hoje é daqueles dias que gostaria de não ter nascido. Sendo menos dramático, é daquelas notícias que gostaria de não ter lido.

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