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‘A Pequena Sereia’ retorna com tema urgente, o preconceito

Qualquer diretor que assuma a responsabilidade de fazer um dos live-actions da Disney tem, em suas mãos, um abacaxi para descascar, já que precisa se equilibrar entre dois mundos: ser fiel ao filme original ou, então, ir por um caminho muito diferente. A Pequena Sereia, que chega aos cinemas nesta quinta, 25, foi pelo primeiro caminho, mas Rob Marshall, o diretor do longa, afirma que não foi uma jornada fácil.

“Foi o filme mais desafiador que fiz na vida”, confessou o cineasta, que também é responsável por títulos como Chicago, O Retorno de Mary Poppins e Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas. Em A Pequena Sereia, as dificuldades foram muitas. Afinal, mais do que escolher o tom, o longa traz desafios em relação a locação, efeitos especiais e cenas musicais.

DESAFIOS

“Parecia que estava trabalhando em três longas ao mesmo tempo enquanto rodava esse filme subaquático, uma espécie de épico debaixo d’água. Depois, vi que havia castelos, praias, naufrágios e tudo mais, mas que, no final, também era um musical”, diz o diretor ao Estadão. “Foi desafiador, mas empolgante.”

Marshall também se recorda das dificuldades em relação aos efeitos especiais. Afinal, em sua elogiada carreira como cineasta, o mais próximo que ele chegou de um filme cheio de efeitos foi em Piratas do Caribe. Já em O Retorno de Mary Poppins e Caminhos da Floresta os efeitos são mais contidos. Neste aqui, desde o primeiro momento, os efeitos aparecem em recifes, corais e caudas de sereias.

“Foi a parte mais difícil”, explica ele. “A produção do filme levou quatro anos e meio por causa desses efeitos. Sabia que, no final das contas, teríamos de adicionar tudo que é submerso, porque não se pode falar ou cantar embaixo d’água. Então, como fazer as cenas? Como os atores vão se mover? Foi um longo tempo de preparação.”

Segundo Marshall, o filme inteiro foi coreografado antecipadamente para que ele soubesse como trabalhar com as diferentes estruturas e câmeras. “Queria que parecesse que eles estavam realmente debaixo d’água. Mas foi realmente desafiador porque foi feito em pequenas partes”, conta. “Dizia ‘ação’, fazíamos algumas falas numa estrutura específica e depois eu tinha de cortar e colocar os atores em outra coisa, cabos ou algum tipo de braço de guindaste maluco para fazer outra fala e depois cortar.”

Mas ele não tem o que reclamar das cenas musicais. Rob é apaixonado pelo gênero – não apenas dirigiu filmes como Chicago, mas também era dançarino e hoje é coreógrafo e diretor de peças da Broadway. A Pequena Sereia, que já é uma animação conhecida pelos números musicais grandiosos, repete a dose no live-action com cenas que devem fazer o público se emocionar. “Eu me sinto mais confortável nessa área porque é de onde venho”, declara, empolgado. “A coisa difícil nos musicais é que você precisa saber quando uma pessoa deve começar a cantar. Se não parecer natural ou orgânico, é constrangedor. Queria que, com esse filme, toda música fosse merecida, que parecesse que apenas falar não era o suficiente. Então, eles têm de cantar de verdade.”

Curiosamente, a primeira canção só chega aos 15 minutos e você quase esquece que é um musical. Rob, porém, tem uma explicação. “A música precisa vir da história. E a primeira música é muito parecida com Somewhere Over the Rainbow, de O Mágico de Oz. É uma música de desejo, é sobre o que eu quero. Entendemos que ela quer fazer parte daquele mundo. E, então, isso se torna o motor da história.”

RACISMO

Além disso, Rob Marshall tem outra questão a tratar em quase toda entrevista que dá: falar sobre os ataques racistas que a protagonista, Halle Bailey, sofreu desde o anúncio de sua escalação para viver Ariel. Na internet, intolerantes dizem que a sereia – que, vale lembrar, é uma personagem que não existe no mundo real – deveria ser ruiva, não negra.

“Tudo o que fiz foi procurar a melhor Ariel do mundo. Isso foi tudo. Vimos todas as etnias, tantos tipos diferentes de atores, mas a Halle veio e preencheu todos os requisitos do que essa Ariel precisava ser. Precisávamos encontrar alguém com uma voz angelical, o que ela obviamente tem. Ela precisava ser etérea e um pouco fora deste mundo. Ela também precisava ter muita força e paixão, mas também ter alegria e vulnerabilidade e uma certa ingenuidade”, explica sobre a escolha. “Halle conquistou o papel e disse: ‘É meu’.”

E, voltando ao coração da história de A Pequena Sereia, Marshall faz a observação central: é um filme para superar diferenças. “É uma história atemporal e oportuna porque realmente fala sobre preconceito e não ter medo do outro”, esclarece. “É não ter medo de um mundo diferente do seu nem de alguém do outro lado de uma fronteira ou de um muro. Derrubar essas paredes e barreiras e construir uma ponte para esse outro lugar e unir esses mundos. Achei muito emocionante e profundo.”

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