
Deltan Dallagnol deu um passeio nos jornalistas do Roda Viva nesta segunda-feira, dia 29.
Falou sem parar, sem ser interrompido, naquele tom de superioridade moral que lhe é peculiar, inventando à vontade, tergiversando, desfiando números, eventualmente aos berros — tudo em velocidade alterada.
A moderadora Vera Magalhães agiu como a tia do deputado cassado, passando-lhe reprimendas carinhosas e gentis palmadas no bumbum rosado.
Agressivo, ele desafiou a bancada, a alturas tantas, a citar uma prisão preventiva injusta feita pela Lava Jato.
Ninguém foi capaz de responder uma banalidade dessas. Para ficar apenas num caso, houve o do então diretor financeiro da empreiteira OAS, Mateus Coutinho de Sá, retirado de sua casa aos 36 anos em 2014 por policiais federais e levado para a prisão em Curitiba (PR).
Ficou dois anos, torturado pela ausência da filha pequena. Foi destruído. Condenado por Sergio Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e pertencer a uma organização criminosa, Coutinho foi absolvido por unanimidade pelos desembargadores da 8ª Turma do TRF-4.
Questionado por Bernardo Mello Franco sobre seu apoio a Bolsonaro e à extrema-direita, Dallagnol entrou num looping sobre Lula, mentindo sobre a regulação da mídia e fazendo outras ilações descabidas — de novo, sem ser incomodado.
Para se defender do processo de cassação, mencionou artigo do velho amigo Merval Pereira e editoriais do Globo, Estadão e Folha.
A defesa do Deltan Dallagnol é baseada em Merval Pereira e editoriais de jornais… #RodaViva pic.twitter.com/4xTMnpDBzF
— Glauber Macario (@glaubermacario) May 30, 2023
O editor do Intercept não conseguiu lançar mão de nenhuma das matérias da Vaza Jato. Seu melhor momento foi quando quis saber do cristão Dallagnol como era apoiar o que Bolsonaro fez na pandemia. “Não sou gestor público”, rebateu o sujeito.
O ápice do amadorismo foi a pergunta pueril de uma jornalista da Folha sobre um possível arrependimento por entrar na política. Minha mulher cantou a bola: ele vai falar que a única maneira de combater o “sistema” era por dentro do “sistema”. Batata.
Fez piadinha sobre o fato de estar acelerado. “Meu combustível é a indignação com a injustiça”, disse. Maravilha.
Deltan Dallagnol sempre será amigo de jornalistas porque eles têm um ancestral comum: o antipetismo. Estará sempre em casa, no final das contas.