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Líderes sul-americanos tentam relançar integração regional em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Siva recebe, nesta terça-feira (30), em Brasília, seus contrapartes sul-americanos para um “retiro” com vistas a recompor o diálogo e a integração regional, paralisada após quase uma década de desavenças.

Desde que voltou ao poder em janeiro, Lula tem tentado recuperar o protagonismo do Brasil no cenário internacional e agora pretende relançar a cooperação na América do Sul através de uma nova versão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), da qual restam apenas sete dos 12 membros fundadores.

Onze presidentes vão se reunir a portas fechadas no Palácio do Itamaraty, sede do ministério das Relações Exteriores, no que Lula definiu como um “retiro” para dialogar de forma relaxada e franca. O Peru será representado por seu chefe de gabinete, Alberto Otárola.

Espera-se que os líderes comecem a chegar às 9h de terça para duas sessões: a primeira com pronunciamentos individuais e depois um debate informal, seguido de um jantar no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.

O primeiro chefe de Estado a chegar a Brasília foi o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que foi recebido com honras por Lula nesta segunda. Juntos, os dois anunciaram o início de um “novo tempo” nas relações bilaterais.

Sem agenda pré-estabelecida, espera-se que os dirigentes dialoguem sobre um novo mecanismo regional de integração. Os governos ainda não anunciaram se haverá uma declaração final com uma posição comum.

“A ideia central é que precisamos formar um bloco para trabalhar juntos”, pois “temos mais ou menos os mesmos problemas”, disse Lula nesta segunda, durante coletiva de imprensa conjunta com Maduro.

O brasileiro afirmou, ainda, que os líderes sul-americanos também vão abordar sua cooperação nas áreas de energia e luta contra o crime transnacional.

“Embora seja pouco provável que surjam visões inovadoras sobre o futuro da América do Sul ou anúncios para promover a integração regional, até mesmo um diálogo básico entre os chefes de Estado é um progresso genuíno”, escreveu Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Americas Quarterly.

– “O retorno de Maduro” –

O presidente venezuelano visita o Brasil pela primeira vez em oito anos, após ter sido barrado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), em meio à política de isolamento internacional liderada por Washington, devido ao questionamento da legitimidade da reeleição de Maduro em 2018.

A aplicação de sanções a Caracas e as denúncias contínuas de violações dos direitos humanos também corroem as relações da Venezuela com seus vizinhos.

“É o começo da volta do Maduro” ao plano regional e o encontro com os outros líderes será “a volta da integração da América do Sul”, disse Lula nesta segunda, que definiu o momento como “histórico”.

Maduro disse que levará à reunião seu pedido de que se “solicite ao governo dos Estados Unidos a suspensão de todas as sanções contra a Venezuela”.

– Integração “diferente” –

Um encontro entre os líderes sul-americanos não ocorria desde a cúpula da Unasul, celebrada em 2014, em Quito.

Criada em 2008 por Lula (2003-2010) e pelo então presidente venezuelano, Hugo Chávez, para contrabalançar a influência americana na região, a União das Nações Sul-americanas foi criticada durante anos por alguns por ter um viés esquerdista.

E após as vitórias conservadoras nas eleições regionais, instabilidades políticas internas e desavenças entre países pela crise venezuelana, o bloco ficou praticamente paralisado, sem orçamento, nem sede.

Atualmente, só permanecem na Unasul Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela e Peru – que nunca deixaram o bloco -, além de Brasil e Argentina, que voltaram este ano.

Um novo mecanismo de integração “pode funcionar (de forma) diferente”, disse Lula.

Mas, sem discussões técnicas prévias entre os países, o encontro será “meramente simbólico”, afirma Eduardo Mello, professor adjunto e Coordenador da Graduação em Relações Internacionais da FGV.

“Há problemas estruturais, a região passa por crises políticas e econômicas há mais de uma década e os principais projetos de desenvolvimento econômico sul-americanos fracassaram”, disse à AFP.

“São fatores estruturais que não se resolvem com vontade, conversando”.

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