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G7 e o balanço de um mundo em transformação, por André Perroud de Souza

do Observatório de Geopolítica

G7 e o balanço de um mundo em transformação

por André Perroud de Souza

A cidade de Hiroshima no Japão foi palco do 49º encontro do G7, países com algumas das maiores economias capitalistas do mundo capitaneadas pelos EUA. Na pauta temas importantes como a crise climática e ambiental, energias renováveis e fome deram espaço para mais uma espetacularização da guerra na Ucrânia e uma clara confrontação à China. E no que concerne o nosso país tivemos mais uma amostra da seriedade que o governo brasileiro transmite no palco internacional.

O presidente ucraniano que inicialmente participaria por videoconferência da cúpula optou por deixar o país que preside na semana em que a Rússia realizou um de seus maiores bombardeios contra o território ucraniano. Desceu do avião (cedido pela França) e não trocou de figurino enquanto esteve em solo japonês trajando seu tradicional uniforme que parece tirado de um boneco dos “comandos em ação” e que lhe cai muito bem pois não difere muito do tradicional brinquedo dos EUA e não passa de mais um produto a ser vendido para o mundo ocidental a exemplo do que foi Guaidó para nós sul americanos. Se os membros do G7 fossem personagens de uma série televisiva com audiência cada vez menor Zelensky seria o personagem introduzido para se elevar a audiência, mas não iria muito além de um alívio cômico.

O comunicado final dos líderes do G7 (entenda-se governo dos EUA) deixa claro em seu primeiro ponto que eles estão dispostos a sacrificar até o último ucraniano. O Segundo ponto do comunicado é regado de ironias. Consiste, ao menos no texto, em realizar esforços para desarmar e combater a proliferação de armas nucleares. Seria tudo muito lindo não fosse a cúpula ter sido realizada na cidade de Hiroshima, alvo do maior horror já perpetrado em uma única ação de guerra que o mundo já viu ao ser atingida por uma bomba atômica lançada pelos EUA matando cerca de 150 mil pessoas, em sua grande maioria civis. Um dos eventos da cúpula foi a visita ao Parque da Paz e lá estava Joe Biden (o segundo presidente em exercício na história a visitar Hiroshima, antes dele apenas Obama) que não disse uma só frase a respeito de toda a circunstância que o cercava e permaneceu em silêncio. Em um mundo em que até o Papa pede perdão por crimes cometidos pela Igreja Católica um presidente dos EUA é incapaz de confrontar os fantasmas do passado.

Embora a presença de Zelensky tenha colocado nos holofotes o confronto do ocidente com a Rússia, o grande alvo foi a China (país que, se excluirmos os EUA, possui índices econômicos superiores a todos os demais países membros do G7 somados). Mencionada mais de 20 vezes no comunicado final foi colocada no papel de grande vilã no mundo, com críticas a forma como atua no comércio internacional e principalmente pela “suposta” coerção econômica que exerce. Críticas a forma como trata algumas minorias étnicas como os Uigures na região de Xinjiang. A questão de Taiwan e a presença Chinesa no Mar do Sul da China inclusive com exercícios militares também não poderia ser esquecida pela cúpula do G7. Pontos até válidos e que podem ser realmente analisados de uma forma crítica, não fosse o caso de virem dos países que mais realizam sanções econômicas no mundo, que tem entre seus líderes pessoas como a italiana Giorgia Meloni e num passado não distante Donald Trump, membros da extrema direita transnacional, e que trazem consigo toda a bagagem de ódio e ressentimento contra imigrantes, negros, latinos, LGBTQI+ e que são os maiores perpetradores de guerras nos últimos dois séculos.

Ao menos para nós brasileiros o presidente Lula e sua cúpula mais uma vez demonstraram prestígio e força no cenário mundial. O primeiro por ser convidado e ter realizado diversas reuniões bilaterais com membros e demais lideranças de organizações importantes como ONU e FMI também presentes na cúpula. Isso seria impensável com Bolsonaro na presidência onde o próprio corpo diplomático brasileiro trabalhava para evitar a presença do ex-presidente para evitar maiores vexames ao país. Segundo, a demonstração de força ao não se deixar levar pela encenação de Zelensky e principalmente dizer nos olhos e para os ouvidos de todos ali presentes que o G7 é incapaz de atender as demandas ou representar uma liderança em um mundo que caminha para uma multipolarização e que ainda não consegue enfrentar as questões mais importantes da agenda internacional como a fome e a miséria.

André Perroud de Souza, analista de relações internacionais

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