

O médico inglês Matthew Harris, que hoje atua em Londres, na Inglaterra, criou um programa inspirado na Estratégia Saúde da Família (ESF) e sonha que o seu país conte com uma rede de agentes comunitários, assim como a estrutura que vivenciou no Brasil.
Harris se mudou para Pernambuco em 1999, logo após se formar em medicina na Europa e validar o diploma no País para atuar como clínico-geral de uma unidade de saúde no município de Camaragibe, na região metropolitana de Recife. A cidade tinha cinco mil habitantes na época.
Apesar da escassez de medicamentos enviados pelo poder público, o médico estrangeiro ressalta que a utilidade das informações dos agentes, que conhecem profundamente, nos mínimos detalhes, as necessidades da população.
“Os agentes comunitários são os primeiros a saber sobre qualquer mudança que acontece. E essas informações são usadas de forma inteligente, antes que os problemas se tornem grandes demais.”
Matthew Harris, em entrevista à BBC.
Saúde made in Brazil
Pesquisador da Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres, Harris criou um projeto totalmente inspirado na ESF para implementar no território britânico o programa do SUS e o que aprendeu durante os quatro anos que viveu em Pernambuco.
“Mesmo antes de voltar, eu já sabia imediatamente que aprendera algo com os brasileiros e precisava compartilhar isso. Eu necessitava dividir e abrir os olhos dos especialistas sobre os agentes comunitários”, afirmou.
No entanto, o médico encontrou resistência na comunidade britânica, desacostumada a credibilizar iniciativas vindas de países não desenvolvidos. Harris conta ainda que levou entre 10 e 15 anos apenas para conseguir explicar a importância da ESF.
Efeito covid-19
Apenas com a pandemia da covid-19 é que Harris conseguiu ressaltar a importância de criar uma rede de agentes comunitários de saúde. O piloto foi iniciado em um conjunto habitacional em Westminster, no centro de Londres.
Nos primeiros seis meses de programa, a equipe do médico percebeu que as pessoas aceitaram bem a abordagem porta a porta dos agentes de saúde e, em um ano e meio, 70% dos moradores receberam, pelo menos, uma visita dos profissionais da saúde.
“Os agentes conseguem estabelecer uma relação com as pessoas e entender realmente quais são as necessidades dela. O ponto importante é que eles próprios moram ali, então se veem como parte daquela comunidade”, destaca.
ESF
Criada na década de 1990, a ESF consiste em visitas de agentes da saúde a moradores de regiões carentes, a fim de entender as demandas da população e compartilhá-las com enfermeiros, auxiliares de enfermagem, médicos da família e clínicos gerais que estão na Unidade Básica de Saúde local.
De acordo com o Ministério da Saúde, o programa conta com 49.172 equipes de Saúde da Família, que atendem 167 milhões de cidadãos cadastrados (ou 79% da população total) nos serviços de atenção primária. O programa também é conhecido pelo governo como a porta de entrada para o SUS.
*Com informações da BBC.
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